26.3.10

Resumindo: Iniciação a Estética - Ariano Suassuna

Tradicionalmente e principalmente nas épocas clássicas, a estética era definida como FILOSOFIA DO BELO, sendo o belo uma propriedade do objeto. Porém, o belo podia ser entendido de duas formas: o belo da arte e o belo da natureza. Para Platão, existia uma hierarquia entre esses dois belos e nela, a natureza estaria acima da arte. Já para Hegel, a arte deveria estar acima da natureza e mais, a estética deveria ser definida como FILOSOFIA DA ARTE.

Por influência de Kant, os pensadores perceberam que deveriam subdividir o campo estético. O belo deixa de ocupa-lo isoladamente e passa a ser apenas uma categoria , assim como o sublime e a comédia. Deste ponto surge a pergunta: Será que deve-se definir a estética como filosofia do belo tendo ela categorias como a comédia que nada tem haver com “belo”?
Tendo em pauta essa pergunta, os pós kantianos propuseram que a estética deveria ser definida como uma ciência e não como filosofia – CIÊNCIA DO ESTÉTICO.

Ariano Suassuna concorda que o estético abrange categorias além do belo, considerando até este ponto a definição clássica da palavra (senso de medida, harmonia, etc.). Sobre isso, Bruyne afirma:
“A arte não produz unicamente o belo, mas também o feio, o horrível, o monstruoso (...)”.
Considerando o Belo apenas uma categoria do estético, Kainz resume:
“A palavra belo exprime, em primeiro lugar, aquilo que nos produz um máximo de satisfação plena e tranqüila do gosto estético (...) Entretanto, quando definimos a estética como a ciência do belo, nao há dúvida de que tomamos, e temos necessariamente que tomar, como base desta definição, uma acepção distinta e mais ampla deste conceito... Daí dizer-se que o objeto sobre o qual recaem as investigações da estética não é belo, no sentido usual, estrito e próprio da palavra, mas sim tudo que influi estéticamente em nós, incluindo-se aí até certas ásperas categorias que lidam já com o feio... (...)”.
Quanto as questões de terminologia, como disse Jacques Maritain, adota-se a que se deseja. Porém, é bem verdade que seria injusto definir estética pelo belo, excluindo o feio já que muitos artistas quiseram manifestar justamente isso. Sendo assim, definiremos aqui a Estética como a FILOSOFIA DA BELEZA e essa beleza inclui o amargo, o feio e o harmônico, o belo.

A Estética é uma reformulação da filosofia em relação a beleza e para estuda-la devemos empreender a visão do mundo em relação a beleza e é neste ponto que esbarramos em um grande problema: O irracionalismo. Existe algum sentido em indagar e afirmar num campo em que o gosto domina? Que vantagem existe para arte e a beleza, em serem dissecadas por um conhecimento abstrato?
A verdade é que os artistas (irracionalistas) vêem a estética com desconfiança pois temem que ela queira legislar sobre a arte e assim restringir a criação. Porém, como veremos, a estética não interfere na liberdade criadora. Quanto aos pensadores irracionalistas, estes formulam uma estética ao tentar combate-la, só não se dão conta disso.

Platão, sobre a beleza, afirmava que “a beleza de um objeto depende da maior ou menos comunicação que ele tem com uma beleza superior”. Já Aristóteles dizia que “a beleza do objeto depende da ordem ou harmonia que exista entre suas partes”. A nenhum destes grandes pensadores ocorreu que a beleza pode não ser uma propriedade do objeto, mas do sujeito, como disse Kant. Assim, segundo ele, existe a inteligência, a vontade e o juízo de gosto (domina a sensação de prazer ou desprazer). A partir disso, podemos dizer que a grande contribuição de Kant na estética, foi mostrar que a beleza não é puramente intelectual nem puramente sensível. Sobre isso, Lalo afirmou “(...) é nossa maneira de pensá-los que faz a beleza dos objetos ou das pessoas, assim como também sua feiúra. Porque em si eles não são belos nem feios: são o que são, e qualquer outra qualificação lhes é extrínseca e vem-lhes exclusivamente de nós”.

Após deixar claro o significado de beleza na definição de estética, entra uma outra questão: seria a estética filosófica ou científica?
A filosofia era quem fornecia os princípios da estética, com a ruptura da ligação entre esses dois campos, ficou a duvida – de onde viriam os princípios da estética?
Na estética cientifica, deveria se constatar fatos, mas não era o que acontecia. Na realidade, nas obras encontra-se termos filosóficos, sendo assim, a estética cientifica é filosófica também. Por este motivo os estetas contemporâneos estão reconhecendo a necessidade de religar a filosofia e a estética.

2 comentários:

  1. Se os teus olhos forem bons, todo o seu corpo será luz.
    Se, porém, os teus olhos forem maus grandes trevas serão. (Jesus, Sermão do Monte)

    A perspectiva e o juízo de valor do sujeito sobre o objeto parece ser o mais se aproxima do conceito de beleza.

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  2. " Sendo assim, definiremos aqui a Estética como a FILOSOFIA DA BELEZA e essa beleza inclui o amargo, o feio e o harmônico, o belo." Mas, isso não seria um niilismo estético?

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